Escola Municipal de Ensino Fundamental Carolina Anália Morais Sais
Tema transversal:
Leitura e escrita de textos.
Escola:
E. M. E. F. Carolina Anália MoraIs Sais
Diretora:
Carmem Maria Vieira de Oliveira
Professor elaborador do projeto:
Dário Milech Neto
Público-alvo:
Alunos do 9° ano do ensino fundamental
Duração do projeto:
Mês de agosto de 2021
Introdução
O presente projeto, intitulado “Aluno Autor”, é baseado em uma ideia que originou o chamado “The Freedom Writers Diary”, livro elaborado pela professora Erin Gruwell juntamente com seus estudantes de uma escola de ensino médio nos Estados Unidos (Long Beach, Califórnia). A proposta da professora Gruwell não era somente envolver os alunos com o espaço escolar, mas também fazê-los refletir sobre a tolerância, a alteridade e o futuro que esses estudantes gostariam de construir para si.
Através da leitura da obra “O Diário de Anne Frank”, esses estudantes norte-americanos criaram as suas próprias escritas, os seus próprios relatos de vida, compilando-os em formato de livro. O sucesso da proposta, em meio à um lugar dominado por gangues e tráfico de drogas, chamou a atenção e logo a história foi transformada em filme (“Escritores da Liberdade”, de 2003).
Baseados nessa ideia e aliando ao conteúdo da disciplina de História (mais especificamente o conteúdo sobre Segunda Guerra Mundial), pretendemos com que os alunos da Escola Carolina Anália Morais Sais leiam trechos de “O Diário de Anne Frank”, reflitam sobre o momento atual (de Pandemia de Covid-19) e produzam textos sobre si e sobre o cotidiano.
Justificativa
Segundo a lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no Art. 32:
O ensino fundamental obrigatório, com duração de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante: (Redação dada pela Lei nº 11.274, de 2006)
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;
Logo, ler e escrever são princípios fundamentais da educação pública e gratuita brasileira. Contudo, ao notarmos o cotidiano da nossa escola, vimos as dificuldades dos alunos em compreender textos curtos ou até mesmo enunciados de questões referentes à alguma disciplina. Além disso, nas atividades do ano anterior, boa parte dos alunos responderam às perguntas dos conteúdos estudados de maneira breve e simplista, sem muito desenvolvimento ou posição crítica quanto aos assuntos abordados.
Esse problema citado (dificuldades e/ou desinteresse pela leitura e escrita) se mostrou, então, preocupante. Entendemos, assim, que a leitura e a escrita constituem operações básicas para que o aluno se torne um cidadão capaz de interpretar o mundo em que está inserido e agir dentro dele enquanto um agente consciente de seu poder questionador e, sobretudo, transformador.
É um mundo interconectado, globalizado e com excesso de informações, muitas delas de caráter falso (fake news), que ameaçam as instituições democráticas do nosso país (e outras soberanias do planeta), o que torna ainda mais urgente que se exercite a leitura e escrita crítica com os educandos de nossa escola.
Independentes, críticos e transformadores do meio social, esse projeto se justifica no trabalho de uma construção coletiva de alunos autores e, principalmente, atores de suas próprias vidas.
Objetivo geral
Promover e desenvolver um maior engajamento dos alunos com a cultura escrita, através da leitura de diversos tipos de textos e também da elaboração de suas próprias composições textuais, com a finalidade de fazer com que esses estudantes sejam capazes de compreender o meio social em que estão inseridos e, assim, interagir com esse espaço de maneira crítica, consciente e cidadã.
Objetivos específicos
- Incentivar a leitura e produção textual;
- Aprofundar o contato dos alunos com a cultura escrita;
- Fazer a conexão dos textos lidos com a realidade cotidiana dos alunos;
- Reservar um tempo para que os alunos exponham seus próprios interesses/gostos de leituras, com o fim de dialogar com os diversos tipos textuais que eles gostam
- Contextualizar socialmente e historicamente as leituras, de forma a guiar e enriquecer as informações e entendimento sobre os textos trabalhados;
- Estimular nos alunos a criação de textos autorais.
Delimitação do Problema
O problema - citado já em parte da justificativa -, se encontra na busca pelo engajamento dos alunos na produção de textos e na falta de posicionamento pessoal enquanto cidadãos frente à temas que perpassam o seu cotidiano dentro e fora do ambiente escolar. É uma barreira a ser quebrada, sobretudo se pensarmos que a turma do 9° ano logo estará no ensino médio - e provas como o ENEM irão exigir tais habilidades.
Dito isso, o problema que esse projeto visa responder é: “Os alunos (após a leitura de um diário) serão capazes de produzir textos sobre o seu cotidiano e seus pensamentos no momento atual?”.
Metodologias
Um dos conteúdos do 9° ano na disciplina de História é o da Segunda Guerra Mundial. Visando trabalhar a questão da intolerância no passado recente e sobre as escritas de si, propomos como leitura principal o livro “O Diário de Anne Frank”. Essa leitura se dará ao longo de todo o ano letivo, guiada pelo professor e inserida dentro do horário das disciplinas em questão (História e Geografia).
Ao mesmo tempo, será pedido para que cada aluno produza a sua própria escrita de si (diário), sobre os temas que acredita ser interessante, tentando fazer conexão com o livro e conteúdo estudado em sala de aula. O diário será pessoal, mas preferivelmente com boa parte de seu conteúdo compartilhável para debates nas aulas sobre os assuntos que os estudantes acharam pertinentes comentar.
No final do projeto, os diários dos alunos serão compilados e publicados em formato digital (e-book), com acesso gratuito na web.
Vale dizer, por fim, repetir que essa ideia de estímulo de leitura e escrita não é inédita. Ela é baseada na experiência conhecida como “Freedom Writers”, da professora Erin Gruwell da Wilson High School (Long Beach, Califórnia), no ano de 1994. Inclusive, tal experiência foi tão bem sucedida que até um filme foi produzido sobre ela:
O que pretendemos com o trabalho desenvolvido? Veja a ilustração abaixo:
Alunos(as) do 9° ano:
- Ana Júlia Afonso Rodrigues;
- Brenda Rodrigues Botelho;
- Elizabete Medeiros Botelho;
- Enivaldo Bueno Gonçalves;
- Iasmin Villanova da Silva;
- Vitória Costa da Costa;
- Mickael Cardoso Acosta;
Referencial Teórico
Para esse projeto de estímulo da leitura e da escrita entre os alunos, julgamos ser necessário que o trabalho seja interdisciplinar:
Enquanto atividade social, a leitura compete a todos os professores. Ao professor de língua, porque deverá ajudar a desenvolver nas crianças – mais ainda naquelas que foram alfabetizadas abruptamente através de métodos puramente formais e analíticos – o prazer e a magia da palavra na obra literária. Aos demais professores, porque eles são o modelo de leitor do grupo profissional que representam: do geógrafo, do cientista, do matemático (KLEIMAN; MORAES, 1999, p. 98).
Dessa forma, os conteúdos de História e Geografia privilegiarão a compreensão de textos e suas leituras, com os professores auxiliando os alunos nas interpretações e, sempre quando possível, relacionando com os outros saberes/conhecimentos. Assim, a competência da leitura se tornará central na construção e avaliação do desempenho dos estudantes no ano letivo em que esse projeto estará vigente.
O importante na leitura do livro escolhido é realizar a conexão interdisciplinar:
Os projetos interdisciplinares ajudam a desenvolver o letramento pleno porque expõem o aluno a vários tipos de texto em vários tipos de eventos, ou a várias formas de ler um mesmo texto, dando oportunidade para se vivenciarem as várias práticas de forma colaborativa e com a ajuda de alguém já familiarizado com elas. O professor das diversas disciplinas passa a ser o modelo porque já é membro do grupo socioprofissional que pratica a leitura como ele gostaria que o aluno lesse, isto é, estabelecendo as conexões que são relevantes para entender a história, a geografia, para desenvolver a competência no uso da linguagem, para expressar uma interpretação (KLEIMAN; MORAES, 1999, p. 99).
Ressaltamos que a compartimentação das disciplinas, com seus saberes e conteúdos separados, não faz sentido em uma realidade que exige soluções e interpretações multidisciplinares:
A esse problema universal confronta-se a educação do futuro, pois existe inadequação cada vez mais ampla, profunda e grave entre, de um lado, os saberes desunidos, divididos, compartimentados e, do de outro, as realidades ou problemas cada vez mais multidisciplinares, transversais, multidimensionais, transnacionais, globais e planetários (MORIN, 2000, p. 36).
Por fim, após salientarmos a relevância do trabalho interdisciplinar, acreditamos que seja esse o caso do presente projeto: a conexão com a disciplina de Língua Portuguesa, juntamente com as matérias de História e Geografia, mesmo que de forma não explícita.
O que os alunos fizeram:
Três alunos, até o momento, realizaram a leitura do livro e produziram seus diários. Por questões éticas nomearemos esses alunos como aluno “A”, aluno “B” e aluna “C”. O aluno “A”, além de escrever seu diário, fez um vídeo lendo o trecho preferido do livro. E a aluna “C” optou por produzir um vídeo lendo o relato de um dia de sua vida.
Aluno: “A”
QDJ,
Querido Diário Jean 13, de agosto de 2021
10:44= 10:44 AM
Olá criatura imaginária?! Estou na escola agora, é aula com a professora Andrea. A nossa turma está num silêncio total, o barulho presente é só das outras turmas aliás só tem quatro alunos na sala, dois do 8° e dois do 9° no caso o Andrey e o Riam, e a Brenda e eu. Agora pouco estava lendo o Diário de Aventuras de Ellie-Um Novo Presidente e o Mundo Irritante de Norman. Esses foram os livros que vieram na cesta. Não tenho nada para fazer. Eu acho que os professores trocaram de horário! Quem se importa com isto?.
Os pedreiros não estão na escola hoje por isso não se houve barulho de música de sofrência. Lá em casa estamos terminando de aumentar o “cubículo casa", pondo as paredes. Já coloquemos a cobertura só falta as paredes, o piso, as portas, as janelas e os repartimentos, é claro o banheiro também. Está frio e tudo branco lá fora, serração eu acho. Ainda bem que eu não preciso tomar banho hoje, já tomei ontem.
O professor Dário de história, colocou lá no grupo do 9°ano sobre um projeto de diários que eu tenho ler o Diário de Anne Frank e depois fazer um resumo de três páginas lidas por mim que eu já fiz (porque eu sou um aluno exemplar né 😅) e depois criar o meu diário que estou fazendo à tempos e por último tirar um dia no mínimo que eu anotei e digitalizar e entregar. Acho que eu vou mudar o seu nome, mas eu tenho pena de estragar a sua essência, a sua vida e a minha imaginação. Sei lá quanto tempo eu estou escrevendo. Só queria que me dessem o UMIDGI A11 da Shopee de aniversário. Hoje é sexta-feira 13. Mas tarde eu volto para atualizar sobre o dia. Até mais!
Parte do Diário do Aluno “B”.
Aluna: “C”
Fotografias da aluna "C", lendo o livro. Ela preferiu realizar um vídeo narrando o seu diário.
Considerações Finais
Até o presente momento (agosto de 2021), o projeto alcançou boa parte da turma de 9° ano da E. M. E. F. Carolina Anália Morais Sais. Os alunos demonstraram interesse em saber mais sobre a vida de Anne Frank, além das motivações que levaram à Segunda Guerra Mundial, na matéria de História.
O interesse pela leitura também ficou visível: além do livro da proposta (projeto), dois dos alunos mostraram quais eram as suas leituras de interesse, levando inclusive as obras literárias para a escola.
Os três alunos (“A”, “B” e “C”) acharam, por si, a forma que melhor gostariam de realizar a tarefa do projeto. Por exemplo: o aluno “A” realizou seu diário e enviou parte dele, além de ter gravado um vídeo lendo um trecho do livro. Já o aluno “B” preferiu mandar fotografias do seu diário (feito em seu caderno), além de ter copiado (reproduzido) a parte que mais lhe chamou a atenção na obra. Por fim, a aluna “C” escreveu seu diário e gravou um vídeo lendo parte dele, enviando imagens enquanto fazia a leitura dos escritos de Anne Frank.
Obviamente, o momento de pandemia de Covid-19 fez com que tivéssemos poucos encontros presenciais (além de alguns alunos terem recebido apenas mais tarde o livro do projeto), contudo consideramos satisfatório o desenvolvimento do mesmo até aqui. Percebemos que o livro serviu como uma introdução (curiosidade) em relação ao conteúdo da disciplina de História e, também, como um momento de reflexão e escritas de si, em que os alunos refletiram não só sobre o dia a dia na escola, mas também sobre a atualidade e
– não menos importante –, sobre suas vidas e seus lugares no mundo.
Por fim, cabe salientarmos que o desenvolvimento do projeto demonstrou as perspectivas dos alunos quanto à vida escolar e pessoal, aproximando-os da leitura e fazendo com que compreendam que eles também podem ser não só alunos, mas alunos autores: autores de suas próprias vidas, em seu próprio tempo histórico e espaço geográfico.
Anexos
1 - Fotografia de Anne Frank. Disponível em: <<https://s.ebiogra- fia.com/img/an/ne/anne_frank_e_seu_dia_rio.jpg>>. Acesso em: 20 de jan. 2021.
2 - O diário original, exposto na Anne Frank House (Amsterdã, Holanda). Disponível em:
<<https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Anne_Frank_Diary_at_Anne_Frank_Museum_in_Ber- lin-pages-92-93.jpg>>. Acesso em: 20 de jan. de 2021.
Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei no 11.274, 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29, 30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as 129 diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de idade. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 7 fev. 2006. Disponível em: <www.mec.gov.br/cne>.
FRANK, A. O diário de Anne Frank. Edição integral. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2000.
KARNAL, Leandro. Conversas com um jovem professor. São Paulo: Editora. Contexto, 2012.
KLEIMAN, A. B.; MORAES, S. E. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. Revisão técnica de Edgard de Assis Carvalho.
2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília: UNESCO, 2000.
OUR STORY. Freedom Writers Foundation, 2020. Disponível em:
<http://www.free- domwritersfoundation.org/about/>. Acesso em: 20 de jan. de 2021.
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